terça-feira, 25 de abril de 2017

Tipos de Gramática - Parte V (Final)

 A chamada Gramática Comparada ou Linguística Comparada como outros também a chamam, surgiu no século XVII, e só ganhou força no século XIX, com os pensamentos voltados para a ideia de um ideal universal das línguas, tendo como referentes razões bíblicas, crenças, formação de uma gramática universal, preocupando-se então com os aspectos diacrônicos das línguas, como elas evoluem, assim sendo, buscavam compará-las e assim encontrar parentescos entre as diversas línguas.

 Podemos citar como um nome extremamente relevante dessa época, o alemão Franz Bopp (1791-1867), considerado o fundador da Gramática Comparada, o mesmo, escreveu um livro sobre a conjugação do sânscrito, abrindo novas perspectivas para a linguística, sendo considerado um filólogo do sânscrito.

 Com a comparação do sânscrito com outras línguas, notou-se parentesco entre o sânscrito, línguas gregas, latinas, persas e germânicas, atribuindo a essa "família" de línguas o nome Indo-Europeias. Os estudiosos que voltam seus estudos para as línguas Indo-Europeias, consideram essas línguas sendo de uma mesma família com uma origem e comum, o Indo-Europeu, o que poderíamos chamar de proto-língua. Essa observação foi percebida através do método comparativo. 

 Eni Orlandi, diz que a grande contribuição das Gramáticas Comparadas foi evidenciar que as mudanças sofridas pelas línguas são regulares, têm uma direção. Não são caóticas como se pensava.  No século XIX, para mostrar a regularidade das mudanças, alguns gramáticos históricos, os neogramáticos chegaram a enunciar leis para as mudanças da língua: as leis fonéticas. Por elas, os estudiosos procuravam explicar a evolução da língua. 

 Devido aos neogramáticos que a língua deixou de ser vista como um organismo que se desenvolve por si e passou a ser vista como um coletivo.

 Então, a Gramática Comparada constitui-se no século XIX, a partir dos trabalhos de Franz Bopp. Caracterizou-se pela utilização do método comparativo, que consiste em comparar formas semelhantes de línguas consideradas como sendo da mesma família de línguas. A Linguística Comparada, tem como objetivo estabelecer correspondências entre línguas para poder estabelecer suas relações de parentesco. A gramática comparativa estuda a analogia entre um grupo de línguas congêneres. 

 Enfim, chegamos ao final da série de artigos sobre a Gramática. Claro que vimos apenas alguns tipos de Gramáticas, muitos outros, dependendo da língua, são existentes e não foram vistos por nós nestas oportunidades.

Tipos de Gramática - Parte IV

 Já vimos que a Gramática é a disciplina que orienta e regula o uso da língua, estabelecendo um padrão de escrita e de fala baseado em diversos critérios como os escritores, a lógica, a tradição ou o bom senso. Também sabemos que a matéria-prima da Gramática é o sistema de normas que dá estrutura a uma língua e que são essas normas que definem a chamada língua padrão, língua culta ou norma culta.

 Há muito já sabemos que o chamado estudo dos fatos da língua, começado pelos gregos e continuado principalmente pelos franceses, era chamado genericamente, de Gramática e procurava, sobretudo, estabelecer regras. Logo, veio a Filologia, que, comparando textos de épocas distintas e decodificando línguas arcaicas, passou a se ocupar também da história literária e dos costumes de cada região. Dessa forma, foram se definindo a Gramática Histórica ou Diacrônica. Assim, podemos dizer que a Gramática Histórica se ocupa de estudar a evolução dos diversos fatos da língua desde a sua estirpe até a época presente, ou ainda, de analisar a evolução histórica de uma língua, isto é, pode-se dizer que a Gramática Histórica é a apresentação metódica da história interna de uma língua. 

 Também podemos entender a Gramática Histórica como sendo aquela que estuda uma sequência de fases evolutivas de um idioma (Bechara, 1968). Estuda a origem e a evolução de uma língua, acompanhando-lhe as fases desde seu aparecimento até o momento atual (Travaglia, 2005: 36).

 Como a Gramática Histórica propõe-se a estudar os fatos de uma língua em sucessivas épocas ou em épocas anteriores à nossa alguns preferem chamá-la de linguística diacrônica, por só considerarem gramática, em seu verdadeiro sentido, a Gramática Normativa.

 Pois bem, sabemos que a Linguística Diacrônica cuida da análise de fenômenos linguísticos nos diferentes momentos históricos da língua a que pertence e diferencia-se da Linguística Sincrônica que estuda a língua num momento histórico determinado, atual ou não.

Tipos de Gramática - Parte III

 A chamada Gramática Descritiva destina-se a descrever ou explicar as línguas tais como elas são faladas. Explicita as regras que realmente são utilizadas pelos falantes. Descreve como se dá o funcionamento da língua e seus usos; é o conjunto de regras sobre o funcionamento de uma língua nos mais diversos aspectos ou níveis. A principal diferença em relação à gramática normativa, é que, na primeira, há a preocupação em ditar regras que muitas vezes só são observadas na escrita, enquanto que a Gramática  Descritiva explicita as regras que os falantes sabem e que usam no dia a dia.

 Sob a ótica de Silva (1999. p. 15-16), a chamada gramática descritiva tem por objetivo descrever as observações linguísticas atestadas entre os falantes de uma determinada língua. Sem prescrever normas ou definir padrões em termos de julgamento de correto/incorreto, busca-se documentar uma língua tal como ela se manifesta no momento da descrição. Nessa perspectiva, a gramática descritiva tem uma visão despida de qualquer preconceito linguístico. O seu campo de atuação é mais amplo, visto que contempla toda a diversidade, não se restringindo à abordagem da variante padrão.

 A gramática descritiva ou sincrônica (do grego syn- 'reunião', chrónos 'tempo') é o estudo do mecanismo pelo qual uma dada língua funciona, num dado momento, como meio de comunicação entre os seus falantes, e da análise da estrutura, ou configuração formal, que nesse momento a caracteriza. A gramática descritiva propõe-se a descrever as regras da língua falada, as quais independem do que a gramática normativa prescreve como "correto". Segundo Possenti, "é a que orienta, o trabalho dos linguistas cuja preocupação é descrever e/ou explicar as línguas tais como elas são faladas." Assim, diferentemente da gramática normativa, na gramática descritiva, as regras derivam do uso da língua.

 A partir da constatação de que a gramática normativa não era capaz de conta do uso real da língua por seus falantes, surgiram outras concepções e, consequentemente, outras acepções de gramática. TRAVAGLIA cita três tipos de gramática: normativa (também chamada de tradicional), descritiva e internalizada  ou implícita.

 A gramática descritiva está ligada a uma determinada comunidade linguística e reúne as formas gramaticais aceitas por estas comunidades. Como a língua sofre mudanças, frequentemente muito do que é prescrito na gramática normativa já não é mais usado pelos falantes de uma língua. A gramática descritiva não tem o objetivo de apontar erros, mas sim identificar todas as formas de expressão existentes e verificar quando e por quem são produzidas.

 Enquanto a gramática normativa considera como erros o uso de formas diferentes da norma culta da língua (tornada oficial), na perspectiva da gramática descritiva, o erro gramatical não existe, ou, explicando melhor: ao adotar um critério social, não linguístico, de correção, a gramática descritiva considera erradas apenas as formas ou estruturas gramaticais não presentes regularmente nas variedades reconhecidas pelos falantes de uma língua. 

 Enfim, a gramática descritiva objetiva estudar a língua em suas diferentes manifestações, rompendo com qualquer tipo de estigma. 

Tipos de Gramática - Parte II

 No artigo anterior tivemos a oportunidade de pincelar acerca da Gramática Normativa e vimos que ela prescreve as regras, normas gramaticais de uma língua e que ela também admite somente uma forma correta para a realização da língua, tratando as variações como erros gramaticais. Vimos que a Gramática Normativa na atualidade é muito criticada pelos gramáticos, pois já se admitem outras gramáticas como a descritiva, a gerativa, etc.

 Já sabemos que a Gramática Normativa toma como base as regras gramaticais tradicionais e o uso da língua por dialetos de prestígio como, por exemplo, obras literárias consagradas, textos científicos, discursos formais, etc. As variedades linguísticas faladas são tratadas como desvio da norma até que sejam dicionarizadas e oficialmente acrescentadas às regras gramaticais daquela língua. Nada disso é surpresa, é o que já dissemos antes, quando é criado um novo vocábulo, de início a gramática não aceita, depois de anos, a gramática acaba se apropriando do vocábulo e passa a tê-lo como fator culto.

 Alvo de críticas ou não a Gramática Normativa extremamente importante para todos os usuários da língua, pois é com ela que se analisam as sentenças produzidas pelos falantes. Dessa maneira, as obras literárias consagradas, textos científicos, discursos formais, etc. são materiais que formam a base para que se obtenham regras gramaticais de cunhos tradicionais. E, sendo assim, as variedades linguísticas faladas são tratadas como desvios da norma culta até que sejam dicionarizadas  e oficialmente acrescentadas às regras gramaticais daquela língua. O que eu quero dizer é que um vocábulo dado hoje como "errado" pela Gramática Normativa pode ser considerado padrão "certo" daqui a cem anos, por exemplo. Ou seja, chega uma hora que a Gramática Normativa precisa "engolir" a língua. É como uma mãe que depois de o filho tanto insistir naquilo negado antes por ela, ela acaba cedendo.

 A Gramática Normativa é uma disciplina e tem por finalidade codificar o uso do idioma, induzindo as normas que representam o ideal da expressão correta. As regras da Gramática Normativa são fundamentadas nas obras dos grandes escritores, onde é colocado um ideal de perfeição da língua como se não houvesse variações de pessoa para pessoa, dependendo do meio do contexto. É nela que se espelha o uso idiomático que se consagrou.  

Tipos de Gramática - Parte I

 A Gramática regula a linguagem e estabelece padrões de escrita e da fala para os falantes de uma língua. Graças a ela, a língua pode ser analisada e preservada, apresentando unidades e estruturas que permitem o bom uso da língua, da língua portuguesa, no nosso caso. 

 É papel da Gramática ultrapassar a visão reducionista que faz da língua um aglomerado de regras prescritas pelos estudiosos do sistema linguístico, devendo ser capaz não apenas de prescrever o idioma, mas também descrevê-lo, preservá-lo e, sobretudo, ter utilidade para os falantes. Sabemos que a Gramática apresenta as regras, mas quem movimenta e faz da língua um sistema vivo e mutável são os falantes, ou seja, os agentes da comunicação. Não é de agora que sabemos que a língua é um organismo vivo e, por esse motivo, é natural que exista um distanciamento entre o que é prescrito pelas normas e o que é efetivamente utilizado pelos seus falantes. Daí a existência de várias gramáticas para estudar a mesma ou várias línguas. 

 A Gramática Normativa é muito utilizada em sala de aula e para diversos fins didáticos. Ela busca a padronização da língua, indicando através de suas regras como devemos falar e escrever corretamente.

 Nela, a abordagem privilegia a prescrição de regras que devem ser seguidas, desconsiderando os fatores sociais, culturais e históricos aos quais estão sujeitos os falantes da língua. A Gramática Normativa vai estudar a Fonologia através da ortoépia (estudo da pronúncia correta dos vocábulos), da prosódia (determinação da sílaba tônica) e da ortografia (representação correta da língua escrita). Na Morfologia ela estuda a forma dos vocábulos, as classes de palavras e as classes gramaticais. Por fim, a Sintaxe estuda a relação entre as palavras de uma oração ou relação entre as orações de um período a partir de regras pré-determinadas com relação à concordância, à regência e à colocação pronominal. 

 A Gramática Descritiva ocupa-se da descrição dos fatos da língua, com o objetivo de investigá-los e não de estabelecer o que é certo ou errado. Enfatiza o uso oral da língua e suas variações. Ela analisa um conjunto de regras que são seguidas, considerando as variações linguísticas da língua ao investigar seus fatos, extrapolando os conceitos que definem o que é certo e errado em nosso sistema linguístico. 

 A Gramática Histórica estuda a origem e a evolução histórica de uma língua, isto é, investiga a origem e a evolução de uma língua, representando os estudos diacrônicos. 

 A Gramática Comparativa estabelece comparação da língua com outras línguas de uma mesma família. No caso de nossa língua portuguesa, as análises comparativas são feitas com as línguas românicas. Ela dedica-se ao estudo comparado de uma família de línguas. O Português, por exemplo, como acabamos de ver, faz parte da Gramática Comparativa das línguas românicas. 

 Veremos um pouco mais sobre cada uma dessas gramáticas, separadamente, em artigos posteriores.

"Dividir em dois" e "dividir por dois", qual a diferença?

 Antes de mais nada, devemos considerar que o verbo "dividir", como tantos outros, tem várias acepções. Na Matemática, no entanto, o seu significado é único, preciso, que se refere a uma das quatro operações da aritmética. Qualquer número é divisível por outro, desde que esse outro não seja zero. Usa-se, então, nesse caso, a preposição POR. Dividindo esse número por dois, temos outro número que é a metade daquele número inicialmente tomado.

 Fora da Matemática, o verbo dividir tem mais o sentido de rachar, partir, separar em partes. Não há o conceito de número envolvido no processo. Quando dizemos: "o impacto foi tão violento que o carro foi dividido em dois", está claro que as duas partes não coincidem em forma, massa ou volume. Está claro também que esse "dois" quer dizer "duas partes" e não "dois carros". "Dividir em dois", então, é o caso em que algo de forma física é separado em duas partes, não sendo necessariamente uma parte igual à outra.

Te amo ou Amo-te?

Não erre mais! 


Te amo:  De acordo com as nossas regras gramaticais, não se pode iniciar frases com pronomes oblíquos. É erro, portanto, grafar desta forma.


Amo-te: É a forma correta e aceita.