quinta-feira, 30 de março de 2017

Trabalhos acadêmicos e norma culta da língua portuguesa: um crescente desastre



Todo trabalho acadêmico deve ser escrito de acordo com a norma culta da língua portuguesa e deve ser formatado de acordo com regras específicas. No Brasil, a norma é estipulada, salvo poucos casos, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.

No entanto, com o crescente número de faculdades que não exigem padrões adequados dos conhecidos TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso), tem se espalhado, no âmbito das bibliotecas universitárias online ou plataformas dedicadas à publicação de trabalhos diversos, um número sem igual de trabalhos de monografias de graduação, dissertações de mestrado e até teses de doutorado com problemas diversos e perigosos de revisão textual. Perigosos porque comprometem, por vezes, a própria teoria aplicada!

Muitos desses problemas são oriundos, inclusive, do que chamamos de "hipercorreção". Em geral, a hipercorreção é comum naquelas pessoas que acreditam ter o domínio da língua culta e, por isso, deslizam com grande frequência. Isso porque, como sabemos, a língua é um organismo vivo e mesmo os dedicados ao seu estudo incessante sabem da dificuldade que é manter um texto de acordo com os padrões da norma culta.

Como já cientes dessa dificuldade, os revisores profissionais preocupam-se em revisar sua própria revisão, consultando, sempre que necessário, gramáticas e dicionários diversos, além de teóricos da língua. Essa postura, no entanto, não é comum entre aqueles que já se acreditam como dominadores da norma culta.

Outro erro comum nesses trabalhos especializados é o fato de ignorarem, por vezes, o leitor leigo, aquele não especialista no assunto ou tema em questão. Todo trabalho acadêmico dever ser direcionado a leitores diversos, sejam eles de quais áreas forem. Isso quer dizer que devemos eliminar todos os jargões? Não necessariamente. Mas que, no uso desses, é necessário que se explique para quem não é versado nos mesmos estudos o significado do termo utilizado, uma contextualização bem elaborada ou, do contrário, trata-se de um pedantismo que pode comprometer todo o trabalho.

Os grandes escritores profissionais, intelectuais, editores e tradutores sabem da importância do revisor de textos, mas ainda falta às universidades o estabelecimento de padrões de exigência que impeçam a aceitação de TCC's sem uma qualidade mínima de clareza, coerência e coesão e aos profissionais o entendimento de que nem mesmo quem escreve bem está apto a revisar um texto!

- Texto extraído -

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